Mais uma contribuição do leitor do blog Marco Aurelio Peruchi
Para quem não conhece, faço um breve relato do que foram as lojas Mappin em São Paulo.
O Mappin era uma loja de departamentos muito grande, que tinha além da Matriz na praça Ramos de Azevedo, filiais em outros 3 ou 4 pontos de São Paulo.
Foi de longe a mais completa e melhor loja de departamentos do Brasil. Ali encontrava-se de tudo, desde roupas a acessórios para carro, gêneros alimentícios, eletrodomésticos, eletro-eletronicos, enfim, podia-se comparar com a Harold’s inglesa, tanto em tamanho quanto em variedade.
Na década de 90 entrou em decadência, quase faliu, fechou, e foi comprado pelo grupo de supermercados Extra.
Era famoso por suas liquidações de final de ano, e as pessoas vinham de longe para comprar suas ofertas nestas épocas. Foi a primeira loja a fechar a meia noite todos os dias.
Era um prédio de 12 andares, e salvo engano, atualmente se transformou em mais uma loja do Extra.
Sinceramente tenho trauma de liquidações. Quando o Mappin do Shopping de Santo André fez sua primeira liquidação minha mãe achou que tinha que ir lá para comprar uns talheres para casa porque, segundo ela, estavam praticamente de graça. Eu, que detesto fila e abomino aglomeração de gente, tentei demove-la da idéia de ir porque já sabia que ia sobrar para eu leva-la, mas quando mãe põe uma coisa na cabeça nem o Papa consegue tirar. Na época eu tinha uma Puma Gtb, e para quem não conhece, o escapamento 6x2 passa bem embaixo dos pedais, e quando o carro esquenta frita os pés da gente e derrete a sola do sapato. No dia fatídico, coloquei minha mãe no carro e fui até o Mappin. Quando cheguei lá, o estacionamento era uma visão do inferno, tinha carro parado até na rua, e o estacionamento é gigante, são 3 andares de vagas. Bom, comecei a procurar vaga para estacionar a barca, subi e desci o estacionamento umas 10 vezes e nada, meus pés estavam pegando fogo e começou a bater o desespero. Por fim deixei minha mãe em uma porta de entrada e continuei em busca de vaga. Depois de muito procurar e com os calos cozinhando estacionei o carro em uma vaga para deficientes (afinal eu já estava mesmo com problemas de locomoção) e sai mancando do carro para não dar muito na vista. Aí foi outra tortura para encontrar minha mãe dentro do Mappin. Depois de uns 30 minutos encontrei ela em uma banca repleta de talheres de qualidade duvidosa e aparência horrível brigando com outras 300 pessoas que por certo tiveram a mesma idéia infeliz de ir ao Mappin naquele dia para comprar meia dúzia de garfos e facas. Terminada a epopéia da escolha dos talheres entramos em uma fila gigantesca para pagar. Eu já de saco cheio perdi literalmente a paciência e parti para o desabafo. Comecei a gritar
bem no meio da fila: - Vamos comprar minha gente, aproveitem a liquidação que o mundo vai acabar, se não comprar hoje vai ficar sem nada, é o juízo final! Quanto mais minha mãe pedia para eu ficar quieto mais eu gritava, e os maridos das mulheres que deviam estar na mesma situação que eu também começaram a se manifestar a meu favor. Foi uma gritaria coletiva, de um lado os maridos e filhos e do outro as mulheres pedindo pelo amor de Deus para eles ficarem quietos. Por fim, minha mãe desistiu da fila e dos talheres, me pegou pelo braço e me arrastou para fora do Mappin sob protesto veemente dos maridos e filhos que me apoiavam. Voltamos para casa e minha mãe acabou encontrando talheres melhores e mais baratos em uma lojinha perto de casa. Minha maior felicidade foi quando o Mappin faliu, mas a música não sai da minha cabeça e ainda hoje tenho pesadelos: Mappin, venha correndo Mappin, até meia noite Mappin, é a liquidação!
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